sábado, janeiro 14, 2012

Aristides de Sousa Mendes e o Algarve

Aristides de Sousa Mendes e o Algarve
Por: Por: Aleksandra Serbim

Era fim de 2002, eu estava perto de concluir meu Mestrado em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (Brasil), onde estudei sobre a tradição do Shabat e a manutenção do judaísmo. Foi nessa altura que ouvi falar sobre Aristides de Sousa Mendes. E, foi amor à primeira vista! Perguntei-me: “Como é possível, eu não ter ouvido falar dele antes?” Então, depois disse para mim: “A história de um grande homem como este não pode ficar entre poucos. É preciso que o máximo de pessoas saiba quem ele foi e o que ele fez.”
Assim decidi: “Um dia farei meu doutoramento sobre ele!”

Alguns anos se passaram. Eu casei, vim morar em Portugal, mais precisamente no Algarve, onde tive meus filhos. E, qual foi a minha surpresa ao saber que a genealogia de Aristides de Sousa Mendes está directamente relacionada com o Algarve. Pelo seu lado familiar “Sousa” ele estará ligado à figura de Madragana Ben-Bekar, que pertencia à Comunidade Judaica de Faro, na altura do Rei D. Afonso III, e, segundo consta, sua ascendência provinha do próprio Rei David de Israel.
Foi também no Algarve que houve a primeira homenagem a Aristides de Sousa Mendes em Portugal.
Há na capital algarvia um importante centro histórico, que é o Cemitério Judaico de Faro. Este é o último vestígio dos judeus em Portugal. Depois que os judeus foram expulsos pela Inquisição, os seus descendentes que moravam em Gibraltar e no Norte da África foram convidados pelo Marquês de Pombal a retornarem, para ajudar a reconstrução do país, devastado pelo terrível terramoto de 1755. E foi assim que em Faro se formou uma importante comunidade. Nessa altura o cemitério foi instituído, funcionando de 1838 a 1932. Mas, só em 1992 o cemitério, então abandonado, foi restaurado. Em frente dele foram plantados dezoito ciprestes, em homenagem ao grande Aristides de Sousa Mendes.

E por que escolheram o numero 18? Porque este número no judaísmo tem um significado muito especial. O “18” em hebraico é escrito pelas palavras CHAI (חי) – que significa também VIDA.
Em Maio de 1993 houve a cerimónia de dedicação do espaço, realizada pelo então Presidente de Portugal, Dr. Mário Soares e mais 400 dignitários e convidados. Este é hoje o único monumento vivo a Aristides em Portugal. Hoje o Cemitério abriga o Museu-sinagoga Isaac Bitton e é aberto à visitação pública, servindo como eminente referência turística internacional. Na entrada principal do cemitério, do lado direito, o visitante também encontrará uma placa em homenagem a Aristides, com sua foto e os dizeres: “Humanitário Português”.

Mas as homenagens não podem parar por aí. Em 2011 eu retomo meus estudos e inicio meu Doutoramento em Psicologia pela Universidade do Algarve. Agora sim, finalmente posso honrar com a palavra que dei há quase 10 anos atrás. Desde então, tenho voltado meus estudos para a construção de uma tese que traga em si o reconhecimento da representação da vida de Aristides de Sousa Mendes.
Esta é minha pequena contribuição para manter acesa a sua memória, assegurando que seu ato heróico será tido como referência no meio académico, e sua história perpetuada por toda uma geração vindoura.
Fonte: Aleksandra Serbim, Algarve

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