terça-feira, julho 08, 2014

Museus do Centro com mais público com gestão de proximidade

Celeste Amaro, diretora regional de Cultura do CentroTodos os museus da região Centro “cresceram” em visitantes e receitas

Posted by  ,27 Junho, 2014 at 16:35
Celeste Amaro, diretora regional de Cultura
caminho de três anos como diretora regional de Cultura – lugar que já havia ocupado em 2002 –, Celeste Amaro faz um balanço positivo do trabalho desenvolvido e garante que os cortes no setor não inviabilizaram o investimento em oito obras, das quais destaca a Casa de Aristides de Sousa Mendes.
Em que medida os cortes orçamentais, na Cultura, têm afetado a região Centro?
A partir do momento em que trabalho com um governo que me diz que é preciso cortar, eu não tenho outro remédio senão gerir o que me dão. Mas sempre digo que a nós, direção regional, coube-nos o que entendemos que deveria caber. Por isso, não posso dizer que tenha razões de queixa.
Mesmo com todos os cortes, quero dizer que, em 2014, consegui garantir um orçamento que me permite ter em curso oito obras. Ou seja, foi possível garantir um investimento global (nosso mais Feder) de três milhões de euros, para intervenções urgentes de conservação e reabilitação de património edificado.
 A reabilitação é prioridade assumida?
Absolutamente. Nós temos uma listagem exaustiva de edificações a necessitar de intervenção, mas nem todas são públicas, pois das oito obras em curso duas respeitam a construções privadas: a casa de Aristides Sousa Mendes e a igreja da Vista Alegre.
 Das obras em curso qual foi a mais urgente?
A Casa do Passal, de Aristides Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato. Está há 50 anos abandonada e estava completamente a cair. Por isso, mesmo sendo de uma fundação privada entendemos que devíamos propor a sua recuperação. É claro que, por força do recurso a fundos comunitários, a Direção Regional de Cultura tem de ficar na posse do imóvel por um período de 10 anos.
 Quando acabam as obras na Casa do Passal?
Têm de estar terminadas antes do final do ano, espero que em Novembro. As obras, nesta primeira fase, respeitam apenas à recuperação exterior e interior, de paredes, portas, janelas e telhado. Depois, a utilização do espaço ficará a cargo da Fundação Aristides de Sousa Mendes.
 Acredita que pode funcionar como âncora para projetos turísticos e culturais?
Acredito que, no futuro, a casa recuperada pode trazer a Cabanas de Viriato e à região Centro muita gente, sobretudo gente com dinheiro, descendente das pessoas que o Cônsul em Bordéus ajudou a fugir aos nazis. Lembro, aliás, que há um ano veio a Portugal e à região um grupo enorme de judeus e, na altura, o jornal New York Times perguntou-me como era possível que Portugal mantivesse a casa como estava. Agora, felizmente, muita coisa mudou e a Sousa Mendes Foundation, que tem sede em Nova Iorque e que é gerida por um sobrinho-neto do Cônsul, já manifestou interesse em participar na segunda parte da intervenção na casa, eventualmente para a criação de uma casa-museu.
Aveiro foi relegada para a alçada regional e, ao contrário de Viseu, por exemplo, não continuara ficar na dependência de Lisboa. Hoje eu penso que essa questão já está esbatida até porque já todos percebemos que é mais fácil gerir com proximidade e não ficar à espera de Lisboa. Aliás, o Museu de Aveiro teve, depois disso, um aumento no número de visitantes, o que não acontecia antes, quando dependia de Lisboa.
 É geral esse aumento de visitantes?
Todos os museus na dependência da Direção Regional de Cultura aumentaram o número de visitantes. Penso que o facto de termos tornado os nossos museus um pouco mais abertos à comunidade terá trazido mais gente. Pode até acontecer que sejam visitantes que não vão para ver as coleções expostas mas vão a outras iniciativas que, até aqui, não havia nos museus.
 Esse crescimento deve ser creditado a quem?
A todos. Tanto aqui à Direção Regional como às diretoras e também é preciso não esquecer os funcionários. Os museus estão hoje todos abertos à hora de almoço e há também uma grande diversificação de iniciativas, desde o cinema ao teatro, à música, a dança e também a conferências ou outras iniciativas da sociedade civil.
 Mais visitantes quer dizer mais receita?
Bem, quando digo que os museus registaram um crescimento no número de visitantes não quer dizer que se tenham vendido mais bilhetes. Mas, por acaso, as receitas até aumentaram.
Também aumentou a aposta na divulgação?
É verdade. Tanto na divulgação direta, com grande aposta na internet, como junto de hotéis, autarquias e outras entidades.
 Isso significa que é boa a articulação com a Entidade Regional de Turismo?
Não. Nós nunca formos solicitados pela entidade regional. Nunca para aqui foi pedido o que quer que seja. Por isso, tem sido ao nível local, muito com as autarquias, que temos trabalhado. Mas é preciso ter em conta que, com o turismo, há um problema de base: está tudo por demais delimitado, ou seja, o turismo depende do Ministério da Economia e a cultura depende do primeiro-ministro. E esta compartimentação funciona assim há muito tempo.
 Mas isso não impede maior cooperação, nomeadamente, ao nível regional…
Talvez. Mas veja que, recentemente, houve alterações ao nível do turismo, com a Entidade Regional do Centro a ser alargada a 100 municípios… Agora, isso não impede que tenhamos reuniões. Aliás, eu já tive uma reunião com o senhor presidente da entidade regional, no gabinete do senhor secretário de Estado.
 Voltando aos museus, como tem evoluído o trabalho em rede?
Eu tenho procurado fazer reuniões regulares com as diretoras. É preciso que os responsáveis se ouçam uns aos outros. E a colaboração existe. Aliás, estamos a fazer com que os nossos museus levem as suas coleções a todos os outros. Olhe, por exemplo, na passada segunda-feira, dia 23, inaugurei no Museu Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco, uma exposição que é do Museu Joaquim Manso, da Nazaré. Ou seja, estamos a levar uma exposição de barcos ao interior e este é um excelente exemplo de cooperação.
 O que está ainda por fazer?
Algumas coisas. Por exemplo, fazer um bilhete único, que possibilite a visita a vários museus na mesma cidade, sejam da nossa rede ou municipais ou outros. Aliás, pegando no caso de Castelo Branco, tive uma reunião com o presidente da câmara, também no dia 23, justamente para tratar de um caso concreto: o Tavares Proença Júnior tem, mesmo ao lado, o Jardim das Estátuas, que é da responsabilidade do município e nós queremos que o bilhete de acesso seja único.

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