terça-feira, outubro 17, 2006
Ville d’Anglet reabilita o esquecido Aristides de Sousa Mendes
Notícia enviada por leitores de França convida-nos a assistir:
- Exposição em homenagem a Aristides de Sousa Mendes,Ville d'Anglet, França, 2-28 Outubro, 2006
- Conferência "La liste de Sousa Mendes: l'engagement en art", por Prof.Jean-François Larrade, Biblioteca Municipal, Ville d'Anglet, 27-Outubro-2006, 18:30
Autores: Dobreira, Carlos (1), Campos, Avelina (2)
A Ville d’Anglet, localidade francesa situada no departamento dos Pirinéus Atlânticos, presta homenagem ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes com uma série de iniciativas que pretendem reabilitar o homem de convicção e a sua vida em prol da Humanidade. Desde 3 de Outubro até 28 de Outubro de 2006 está patente na Biblioteca Municipal da Ville d’Anglet, a exposição “Aristides de Sousa Mendes, le Juste de Bordeaux”, concebida pelo Comité Nacional Francês de Homenagem ao Cônsul (http://www.sousamendes.com/).
A 27 de Outubro ocorrerá, pelas 18:30, na Biblioteca Municipal daquela cidade, a conferência “La liste de Sousa Mendes: l’engagement en art”, proferida por Jean-François Larralde, professor de História de Arte, com a participação do Atelier de lecture de l’UPPA (Bayonne). As iniciativas integram-se no programa evocativo sob o tema “Aristides de Sousa Mendes, le Juste de Bordeaux”.
O papel de Aristides de Sousa Mendes na vida dos refugiados da II Guerra Mundial
Aristides de Sousa Mendes nasceu a 19 de Julho de 1885, na localidade de Cabanas de Viriato. Em 1907 viria a licenciar-se, pela Universidade de Coimbra, em Direito. Cedo começou a exercer funções de diplomacia e a 12 de Maio de 1910 foi nomeado cônsul de 2.ª classe na Guiana Britânica e daqui ao estrelato nas relações internacionais foi um pequeno passo.
Em 1918, durante o regime ditatorial de Sidónio Pais, foi promovido a cônsul de 1.ª classe mas, como nutria considerável simpatia pela causa monárquica, o ditador resolveu destitui-lo. Contudo, passou a dirigir, temporariamente, o consulado de São Francisco da Califórnia. Já casado e com dez filhos, Sousa Mendes prossegue a sua carreira diplomática em Porto Alegre (Brasil), Vigo (Espanha) e Antuérpia (Bélgica).
Por fim, em 1938, na ditadura salazarista, é nomeado cônsul-geral de Portugal em Bordéus (França). Porém, iniciou uma rebelião pessoal contra Salazar quando este se apoderou do cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, que até então pertencia ao irmão do cônsul.
Assim, em 1940, Aristides de Sousa Mendes, em Bordeús, no subposto consular de Bayonne e em Hendaye (fronteira França-Espanha), prossegue uma insurreição contra Salazar e o nazismo dominante na Europa concedendo cerca de 30 000 mil vistos (segundo Harry Ezratty, em artigo publicado e datado de 1964), muitos deles com destino para Portugal, a judeus, russos, exilados e outras minorias que procuravam escapar ao extermínio. A atitude, contrária à Circular 10 (Outubro de 1938) e à Circular 14 (11 de Novembro de 1939), viria a ser sentenciada com a destituição do cargo de diplomata, a condenação a um ano de inactividade e de seguida a aposentação sem qualquer remuneração. Sousa Mendes morreu em 1954 com imensas dificuldades financeiras.
Nas palavras do Major Álvaro de Sousa Mendes, neto do herói português: “Ele cumpriu com a sua consciência e os seus sentimentos humanitários, contra a tirania e a intolerância. Daí, o meu avô dizer: Prefiro estar com Deus contra os Homens do que com os homens contra Deus.”
O processo de Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches está disponível, na íntegra e em formato digital, através do Sistema de Pesquisa InterArquivos integrado no Arquivo Contemporâneo do Ministério dos Negócios Estrangeiros (www.sgmf.pt). Através da pesquisa é possível aceder a documentação diversa compreendida no período de 1910 a 1961.
As pontes da esperança entre Irun e Hendaye
Chegados à fronteira entre Irun e Hendaye, decepciona-se o leitor com o aspecto desolador do rio Bidasoa e das quatros pontes existentes, uma pedonal, uma viária e duas ferroviárias, estas últimas as mais antigas. De facto, desde pneus, papéis, vegetação, plásticos a boiar no rio, até aos graffiti’s nos edifícios outrora de fiscalização da fronteira franco-espanhola, parece-nos ser urgente uma intervenção de quem de direito para a limpeza e preservação daquele espaço de memória. É estranho estarmos no Eurodistrito de Bidasoa-Txingudi, inovador no contexto europeu porque reúne as cidades de Irun, Hendaye e Hondarribia num espírito de intermunicipalidade, e observar tal estado de coisas.
Trata-se de um local histórico da II Guerra Mundial ligado à fuga de milhares de refugiados vindos de Bordeús – Sousa Mendes esteve em Hendaye assegurando-se da passagem efectiva dos refugiados com o seu visto - e de vários pontos da Europa por estrada e por linha férrea, tendo ocorrido também em Hendaye o funesto encontro entre Hitler e Franco.
Observámos também as margens do rio Bidasoa que separam a localidade espanhola de Hondarribia de Hendaye. Dois ferroviários deram-nos conhecimento do incontável número de pessoas que atravessaram o rio de barco perante a proximidade das tropas alemãs.
A reconstrução da Casa do Cônsul Aristides de Sousa Mendes, Cabanas de Viriato
O edifício, em avançado estado de degradação, pertence desde 2002, após doação do Governo da República Portuguesa, à Fundação Aristides de Sousa Mendes, envidando-se esforços, a nível nacional e internacional, para a sua recuperação.
Por despacho da Senhora Ministra da Cultura, datado de 3 de Fevereiro de 2005, a Casa do Passal foi homologada como Monumento Nacional, encontrando-se em vias de classificação. A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) entregou ao Conselho de Administração da Fundação Aristides de Sousa Mendes o estudo prévio de arquitectura da Casa do Passal. A reconstrução só será possível com apoios estatais mas também através de donativos nacionais e internacionais de instituições e dos cidadãos comuns, estando a mesma orçada entre 1,5 e 2 milhões de euros.
Contributos para a reconstrução
A Fundação Aristides de Sousa Mendes tem desenvolvido esforços para angariar fundos tendo aberta uma conta no Montepio Geral de forma a receber todos os contributos da sociedade civil, sem distinção. Deixamos o NIB e IBAN da conta da Fundação para informação dos leitores:
NIB 0036 0185 9910 0005 2212 1;
IBAN PT50 0036 0185 9910 0005 2212 1.
Aristides de Sousa Mendes no programa “Os Grandes Portugueses”
Apesar do esquecimento do “Schindler” português e da degradação da Casa do Passal, a RTP inseriu Sousa Mendes numa lista de sugestões/exemplos destinados a serem votados pelos portugueses até 31 de Outubro de 2006 (www.rtp.pt). A votação está integrada no programa “Os Grandes Portugueses”, dirigido por Maria Elisa.
(1) Licenciado em História e Ciências Sociais (ensino de)
(2) Licenciada em Comunicação Social
Os nossos agradecimentos pela notícia e bom sucesso nos eventos em Ville d'Anglet.
- Exposição em homenagem a Aristides de Sousa Mendes,Ville d'Anglet, França, 2-28 Outubro, 2006
- Conferência "La liste de Sousa Mendes: l'engagement en art", por Prof.Jean-François Larrade, Biblioteca Municipal, Ville d'Anglet, 27-Outubro-2006, 18:30
Autores: Dobreira, Carlos (1), Campos, Avelina (2)
A Ville d’Anglet, localidade francesa situada no departamento dos Pirinéus Atlânticos, presta homenagem ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes com uma série de iniciativas que pretendem reabilitar o homem de convicção e a sua vida em prol da Humanidade. Desde 3 de Outubro até 28 de Outubro de 2006 está patente na Biblioteca Municipal da Ville d’Anglet, a exposição “Aristides de Sousa Mendes, le Juste de Bordeaux”, concebida pelo Comité Nacional Francês de Homenagem ao Cônsul (http://www.sousamendes.com/).
A 27 de Outubro ocorrerá, pelas 18:30, na Biblioteca Municipal daquela cidade, a conferência “La liste de Sousa Mendes: l’engagement en art”, proferida por Jean-François Larralde, professor de História de Arte, com a participação do Atelier de lecture de l’UPPA (Bayonne). As iniciativas integram-se no programa evocativo sob o tema “Aristides de Sousa Mendes, le Juste de Bordeaux”.
O papel de Aristides de Sousa Mendes na vida dos refugiados da II Guerra Mundial
Aristides de Sousa Mendes nasceu a 19 de Julho de 1885, na localidade de Cabanas de Viriato. Em 1907 viria a licenciar-se, pela Universidade de Coimbra, em Direito. Cedo começou a exercer funções de diplomacia e a 12 de Maio de 1910 foi nomeado cônsul de 2.ª classe na Guiana Britânica e daqui ao estrelato nas relações internacionais foi um pequeno passo.
Em 1918, durante o regime ditatorial de Sidónio Pais, foi promovido a cônsul de 1.ª classe mas, como nutria considerável simpatia pela causa monárquica, o ditador resolveu destitui-lo. Contudo, passou a dirigir, temporariamente, o consulado de São Francisco da Califórnia. Já casado e com dez filhos, Sousa Mendes prossegue a sua carreira diplomática em Porto Alegre (Brasil), Vigo (Espanha) e Antuérpia (Bélgica).
Por fim, em 1938, na ditadura salazarista, é nomeado cônsul-geral de Portugal em Bordéus (França). Porém, iniciou uma rebelião pessoal contra Salazar quando este se apoderou do cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, que até então pertencia ao irmão do cônsul.
Assim, em 1940, Aristides de Sousa Mendes, em Bordeús, no subposto consular de Bayonne e em Hendaye (fronteira França-Espanha), prossegue uma insurreição contra Salazar e o nazismo dominante na Europa concedendo cerca de 30 000 mil vistos (segundo Harry Ezratty, em artigo publicado e datado de 1964), muitos deles com destino para Portugal, a judeus, russos, exilados e outras minorias que procuravam escapar ao extermínio. A atitude, contrária à Circular 10 (Outubro de 1938) e à Circular 14 (11 de Novembro de 1939), viria a ser sentenciada com a destituição do cargo de diplomata, a condenação a um ano de inactividade e de seguida a aposentação sem qualquer remuneração. Sousa Mendes morreu em 1954 com imensas dificuldades financeiras.
Nas palavras do Major Álvaro de Sousa Mendes, neto do herói português: “Ele cumpriu com a sua consciência e os seus sentimentos humanitários, contra a tirania e a intolerância. Daí, o meu avô dizer: Prefiro estar com Deus contra os Homens do que com os homens contra Deus.”
O processo de Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches está disponível, na íntegra e em formato digital, através do Sistema de Pesquisa InterArquivos integrado no Arquivo Contemporâneo do Ministério dos Negócios Estrangeiros (www.sgmf.pt). Através da pesquisa é possível aceder a documentação diversa compreendida no período de 1910 a 1961.
As pontes da esperança entre Irun e Hendaye
Chegados à fronteira entre Irun e Hendaye, decepciona-se o leitor com o aspecto desolador do rio Bidasoa e das quatros pontes existentes, uma pedonal, uma viária e duas ferroviárias, estas últimas as mais antigas. De facto, desde pneus, papéis, vegetação, plásticos a boiar no rio, até aos graffiti’s nos edifícios outrora de fiscalização da fronteira franco-espanhola, parece-nos ser urgente uma intervenção de quem de direito para a limpeza e preservação daquele espaço de memória. É estranho estarmos no Eurodistrito de Bidasoa-Txingudi, inovador no contexto europeu porque reúne as cidades de Irun, Hendaye e Hondarribia num espírito de intermunicipalidade, e observar tal estado de coisas.
Trata-se de um local histórico da II Guerra Mundial ligado à fuga de milhares de refugiados vindos de Bordeús – Sousa Mendes esteve em Hendaye assegurando-se da passagem efectiva dos refugiados com o seu visto - e de vários pontos da Europa por estrada e por linha férrea, tendo ocorrido também em Hendaye o funesto encontro entre Hitler e Franco.
Observámos também as margens do rio Bidasoa que separam a localidade espanhola de Hondarribia de Hendaye. Dois ferroviários deram-nos conhecimento do incontável número de pessoas que atravessaram o rio de barco perante a proximidade das tropas alemãs.
A reconstrução da Casa do Cônsul Aristides de Sousa Mendes, Cabanas de Viriato
O edifício, em avançado estado de degradação, pertence desde 2002, após doação do Governo da República Portuguesa, à Fundação Aristides de Sousa Mendes, envidando-se esforços, a nível nacional e internacional, para a sua recuperação.
Por despacho da Senhora Ministra da Cultura, datado de 3 de Fevereiro de 2005, a Casa do Passal foi homologada como Monumento Nacional, encontrando-se em vias de classificação. A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) entregou ao Conselho de Administração da Fundação Aristides de Sousa Mendes o estudo prévio de arquitectura da Casa do Passal. A reconstrução só será possível com apoios estatais mas também através de donativos nacionais e internacionais de instituições e dos cidadãos comuns, estando a mesma orçada entre 1,5 e 2 milhões de euros.
Contributos para a reconstrução
A Fundação Aristides de Sousa Mendes tem desenvolvido esforços para angariar fundos tendo aberta uma conta no Montepio Geral de forma a receber todos os contributos da sociedade civil, sem distinção. Deixamos o NIB e IBAN da conta da Fundação para informação dos leitores:
NIB 0036 0185 9910 0005 2212 1;
IBAN PT50 0036 0185 9910 0005 2212 1.
Aristides de Sousa Mendes no programa “Os Grandes Portugueses”
Apesar do esquecimento do “Schindler” português e da degradação da Casa do Passal, a RTP inseriu Sousa Mendes numa lista de sugestões/exemplos destinados a serem votados pelos portugueses até 31 de Outubro de 2006 (www.rtp.pt). A votação está integrada no programa “Os Grandes Portugueses”, dirigido por Maria Elisa.
(1) Licenciado em História e Ciências Sociais (ensino de)
(2) Licenciada em Comunicação Social
Os nossos agradecimentos pela notícia e bom sucesso nos eventos em Ville d'Anglet.
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2 comentários:
Não fora a sua visita ao Oeiras Local e não teria tido conhecimento deste blogue e dos seus meritórios propósitos.
Nunca é demais relembrar Aristides Sousa Mendes e a sua acção humanitária como Consul de Portugal.
No meu outro blogue deixei, em devido tempo, o meu modesto contributo.
Um abraço.
IM
http://a-redea-solta.blogspot.com/2004/06/era-meu-objectivo-salvar-toda-aquela.html
muitos parabéns .este blogg esta excelente
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